Palavras Voam, As

Em As palavras voam, Bartolomeu de Campos Queirós nos convida a penetrar no delicado universo de Cecília Meireles, sem dúvida, uma das mais marcantes expressões da poesia brasileira. A voz lírica de Cecília é mais próxima do canto do que da fala mai s próxima do sussurro do que do grito. Ela não é poeta de ruas e multidões -- sua poesia acontece nos recantos escondidos de nossos sentimentos mais íntimos. O ritmo suave de suas palavras se opõe francamente ao ritmo acelerado em que o mundo caminha , um mundo cuja crueza muitas vezes destrói com brutalidade sonhos e devaneios. Esse descompasso entre sonho e realidade, entre mundo interior e mundo exterior, aparece de maneira muito contundente nos poemas de Cecília. Suas imagens são suaves, quas e etéreas -- desenham pássaros, flores, nuvens, mares e arco-íris -- , porém, nos falam muitas vezes de coisas doloridas como amor, perda e decepção de pombos feridos e de flores caídas no chão. Cecília nos fala do sonho, mas não se esquece da dor q ue vem com ele. Permeando quase todos os seus poemas, está a angústia da passagem do tempo, que afunda barquinhos de papel e desmancha desenhos de areia.